O baile de debutantes, tal como conhecemos hoje, surgiu na Europa, entre as famílias mais nobres, que realizavam grandes bailes para a sociedade, objetivando exibir a filha como uma jovem mulher, pronta para firmar matrimônio e dar continuidade à linhagem.
Como o casamento ainda era visto como um negócio, ainda que firmado sob preceitos religiosos, o baile tinha um viés prático: reunir pretendentes e escolher o mais adequado (o mais rico ou prestigiado, leia-se).
Debut, do francês, significa estréia ou início.point 41 | Com 15 anos, a jovem estreia a mulheridade, conservando um pouco da inocência da juventude, mas incorporando a maturidade da vida adulta.point 157 | Após já ter passado pela fase da menarca, a menina é instruída pelas mulheres da família a bordar, ler, tocar instrumentos, seguir instruções religiosas e a se importar com a aparência.point 312 |
Biologicamente fértil, à menina é ensinado como ser graciosa e sedutora, num limiar entre virgem imaculada e esposa abnegada.point 107 | É claro que essa estréia é puramente retórica, visto que o processo de amadurecimento de uma jovem constitui-se de uma sucessão de acontecimentos e processos bem mais complexos (biológicos, psicológicos e sociais).point 290 | 1
Para dar cabo dessa simbologia, costumava-se iniciar os bailes de debutantes vestindo a garota com cores leves e graciosas, adornando-lhe de laços e flores, para daí, após a meia-noite, a menina trocar de vestido, escolhendo um mais sóbrio e elegante, para então dançar valsa com o pai.
Importante para a aliança entre as famílias nobres, o baile de debutante servia para mostrar que a jovem menina já poderia representar o papel de boa esposa e de boa mãe. Com o passar dos tempos, tal tradição perdeu o caráter restrito à nobreza, disseminando-se também entre a burguesia, e sua essência simbólica permanece até hoje popularizada até entre as classes mais baixas.
Da Europa, os bailes de debutantes chegaram às Américas, junto com a disseminação do catolicismo. A prática se tornou cada vez mais difundida, mas
cada vez menos por motivos religiosos e mais por motivos performático-sociais: o baile de debutantes passou a sinalizar o grau de respeitabilidade da moça, cuja família realiza o esforço de inseri-la na sociedade através de um belo (e muitas vezes caro) evento tradicional.
Assim, uma jovem de 14 anos normalmente deseja que a sua festa de quinze anos siga à risca todos esses elementos – vestidos, valsas, flores, famílias, cores leves, a escolha do par para a dança etc.point 220 |
A festa simboliza um marco da vida da menina, mesmo que ela nem sequer entenda a simbologia envolvida no evento.point 95 | Atualmente, é comum que as escolas também se engajem no evento: elas lançam uma leva de jovens debutantes, como se firmasse o seu apoio e assinatura junto com a dos pais – ou seja, além de pertencer a uma família respeitável, a jovem também conta com o apoio de uma determinada instituição de ensino, revelando ter, além de bom sobrenome, uma boa educação.point 396 |
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No entanto, antes de ser aderida pela Europa, semelhante prática já era realizada por antigas civilizações pré-colombianas, especificamente a asteca e a maia.
Para essas civilizações, ao completarem 15 anos, as meninas já eram consideradas mulheres. Elas eram levadas ao Telpochcalli, que funcionava como um centro preparatório dos jovens de famílias ricas. Lá, os rapazes eram preparados para a guerra e as meninas, para o casamento. Esses colégios funcionavam principalmente para ensinar os jovens a contribuir para a vida pública da comunidade.
A vida no Telpochcalli era difícil.point 30 | Desde o início os jovens eram obrigados a praticar atividades extenuantes.point 95 | O dia começava com um banho gelado num lago, durante o primeiro raiar do sol, seguido de uma refeição frugal e muito controlada.point 201 |
Os alunos tinham como obrigação manipular armas, decorar preceitos religiosos, reparar templos, transportar materiais, trabalhar nas terras, colher, etc.point 139 | Além disso, também eram aplicados testes de resistência à dor, através de práticas de auto-sacrifício.point 227 |
Quem se comportasse mal, era fechado dentro de uma sala sem janelas, onde pimentas fortíssimas eram queimadas, causando desmaio na pessoa pela falta de oxigênio.point 138 | Também os jovens eram punidos por arames e outros objetos pontiagudos.point 198 | Por sua vez, os adolescentes que apresentassem atitudes negativas, como o flerte e o gosto pela fofoca, eram obrigados a varrer fora da casa à noite, o que era considerado pior do que ser espancado – tanto pela humilhação e pelo frio da noite quanto pelo perigo de ser atacado por alguém ou por um animal.point 457 |
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Nessa época, também, as mulheres educavam as filhas, enquanto os homens instruíam os meninos.point 81 | Desta forma, durante todo o processo de educação informal dentro da família, meninos e meninas aprendiam os comportamentos apropriados e diferentes para cada sexo.point 221 |
Ao ingressarem no Telpochcalli, as meninas permaneciam sem contato com homens, pois deviam manter-se dignas e puras até o casamento.point 114 | Os homens que já haviam passado pela cerimônia Calmécac e já eram considerados guerreiros, poderiam negociar com as famílias o valor da filha – sim, para essas civilizações o casamento também funcionava como uma troca de viés econômico.point 320 |
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A chegada dos espanhóis significou o combate a essas práticas e a doutrinação violenta do catolicismo. No século XIX, Maximiliano e Carlota se apropriaram da tradição, adicionando elementos que fixaram-se até os dias de hoje, como as flores, a valsa, os vestidos, etc. A partir da colonização, portanto, tais práticas foram levadas à Europa e disseminaram-se entre a nobreza, com as devidas transformações religiosas.
Foto: Gazeta do Povo
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