O baile de debutantes, tal como conhecemos hoje, surgiu na Europa, entre as famílias mais nobres, que realizavam grandes bailes para a sociedade, objetivando exibir a filha como uma jovem mulher, pronta para firmar matrimônio e dar continuidade à linhagem.
Como o casamento ainda era visto como um negócio, ainda que firmado sob preceitos religiosos, o baile tinha um viés prático: reunir pretendentes e escolher o mais adequado (o mais rico ou prestigiado, leia-se).
Debut, do francês, significa estréia ou início. Com 15 anos, a jovem estreia a mulheridade, conservando um pouco da inocência da juventude, mas incorporando a maturidade da vida adulta. Após já ter passado pela fase da menarca, a menina é instruída pelas mulheres da família a bordar, ler, tocar instrumentos, seguir instruções religiosas e a se importar com a aparência.
Biologicamente fértil, à menina é ensinado como ser graciosa e sedutora, num limiar entre virgem imaculada e esposa abnegada.
É claro que essa estréia é puramente retórica, visto que o processo de amadurecimento de uma jovem constitui-se de uma sucessão de acontecimentos e processos bem mais complexos (biológicos, psicológicos e sociais).Para dar cabo dessa simbologia, costumava-se iniciar os bailes de debutantes vestindo a garota com cores leves e graciosas, adornando-lhe de laços e flores, para daí, após a meia-noite, a menina trocar de vestido, escolhendo um mais sóbrio e elegante, para então dançar valsa com o pai.
Importante para a aliança entre as famílias nobres, o baile de debutante servia para mostrar que a jovem menina já poderia representar o papel de boa esposa e de boa mãe. Com o passar dos tempos, tal tradição perdeu o caráter restrito à nobreza, disseminando-se também entre a burguesia, e sua essência simbólica permanece até hoje popularizada até entre as classes mais baixas.
Da Europa, os bailes de debutantes chegaram às Américas, junto com a disseminação do catolicismo. A prática se tornou cada vez mais difundida, mas
cada vez menos por motivos religiosos e mais por motivos performático-sociais: o baile de debutantes passou a sinalizar o grau de respeitabilidade da moça, cuja família realiza o esforço de inseri-la na sociedade através de um belo (e muitas vezes caro) evento tradicional.
Assim, uma jovem de 14 anos normalmente deseja que a sua festa de quinze anos siga à risca todos esses elementos – vestidos, valsas, flores, famílias, cores leves, a escolha do par para a dança etc.
A festa simboliza um marco da vida da menina, mesmo que ela nem sequer entenda a simbologia envolvida no evento.
Atualmente, é comum que as escolas também se engajem no evento: elas lançam uma leva de jovens debutantes, como se firmasse o seu apoio e assinatura junto com a dos pais – ou seja, além de pertencer a uma família respeitável, a jovem também conta com o apoio de uma determinada instituição de ensino, revelando ter, além de bom sobrenome, uma boa educação.
No entanto, antes de ser aderida pela Europa, semelhante prática já era realizada por antigas civilizações pré-colombianas, especificamente a asteca e a maia.
Para essas civilizações, ao completarem 15 anos, as meninas já eram consideradas mulheres. Elas eram levadas ao Telpochcalli, que funcionava como um centro preparatório dos jovens de famílias ricas. Lá, os rapazes eram preparados para a guerra e as meninas, para o casamento. Esses colégios funcionavam principalmente para ensinar os jovens a contribuir para a vida pública da comunidade.
A vida no Telpochcalli era difícil. Desde o início os jovens eram obrigados a praticar atividades extenuantes. O dia começava com um banho gelado num lago, durante o primeiro raiar do sol, seguido de uma refeição frugal e muito controlada.
Os alunos tinham como obrigação manipular armas, decorar preceitos religiosos, reparar templos, transportar materiais, trabalhar nas terras, colher, etc.
Além disso, também eram aplicados testes de resistência à dor, através de práticas de auto-sacrifício.Quem se comportasse mal, era fechado dentro de uma sala sem janelas, onde pimentas fortíssimas eram queimadas, causando desmaio na pessoa pela falta de oxigênio.
Também os jovens eram punidos por arames e outros objetos pontiagudos. Por sua vez, os adolescentes que apresentassem atitudes negativas, como o flerte e o gosto pela fofoca, eram obrigados a varrer fora da casa à noite, o que era considerado pior do que ser espancado – tanto pela humilhação e pelo frio da noite quanto pelo perigo de ser atacado por alguém ou por um animal.
Nessa época, também, as mulheres educavam as filhas, enquanto os homens instruíam os meninos.
Desta forma, durante todo o processo de educação informal dentro da família, meninos e meninas aprendiam os comportamentos apropriados e diferentes para cada sexo.Ao ingressarem no Telpochcalli, as meninas permaneciam sem contato com homens, pois deviam manter-se dignas e puras até o casamento.– sim, para essas civilizações o casamento também funcionava como uma troca de viés econômico.
Os homens que já haviam passado pela cerimônia Calmécac e já eram considerados guerreiros, poderiam negociar com as famílias o valor da filha
A chegada dos espanhóis significou o combate a essas práticas e a doutrinação violenta do catolicismo. No século XIX, Maximiliano e Carlota se apropriaram da tradição, adicionando elementos que fixaram-se até os dias de hoje, como as flores, a valsa, os vestidos, etc. A partir da colonização, portanto, tais práticas foram levadas à Europa e disseminaram-se entre a nobreza, com as devidas transformações religiosas.
Foto: Gazeta do Povo
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