Desde o dia 23 de março, uma nova série brasileira está disponível na Netflix e vem causando muita polêmica.
Trata-se de O Mecanismo, dirigida por José Padilha e produzida pela própria Netflix. O assunto? A série faz um retrato fictício dos eventos reais da Operação Lava Jato, promovida pela Polícia Federal.
A história se baseia no livro Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, do jornalista Vladimir Netto.
Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff já se manifestaram publicamente sobre o seriado e demonstraram desaprovação (chegaram a falar inclusive em processo contra a Netflix).
Todos os nomes envolvidos, direta ou indiretamente, na Lava Jato, são retratados na série com nomes diferentes, mas a associação com as personalidades reais é óbvia e a escolha dos atores (muito similares aos envolvidos na vida real) deixa isso mais evidente.
A série também traz Selton Mello como o protagonista Marco Ruffo, um delegado da Polícia Federativa.
Além de trocar o nome dos envolvidos na trama, a série optou por trocar o nome das instituições e empresas envolvidas. Marco Ruffo, no caso, seria inspirado no policial federal aposentado Gerson Machado.
Já o ex-presidente Lula, condenado por Sérgio Moro pelo caso do triplex em Guarujá, é na série o personagem João Higino, vivido por Arthur Kohl.
Uma das maiores polêmicas da série é uma fala de Higino, que fala em “estancar a sangria“. Na vida real, a frase não é de Lula, e sim de Romero Jucá, em uma conversa com o ex-senador e ex-presidente da Transpetro (empresa de transporte e logística da Petrobras), Sérgio Machado. O trecho da conversa envolvendo Jucá e Machado foi divulgado em 23 de maio de 2016.
O juiz Sérgio Moro, na série, aparece com o nome de Paulo Rigo, e é interpretado pelo ator Otto Jr.
Dilma Rousseff, por sua vez, aparece no seriado como Janete Ruscov, interpretada por Sura Berditchevsky.
Mônica Moura, presa pela Lava Jato e marqueteira de Dilma nas campanhas presidenciais, aparece na série interpretada por Maria Ribeiro, como Andrea Mariano.
O empresário Marcelo Odebrecht, um dos primeios grandes nomes a ser preso em decorrência da Operação Lava Jato, dá lugar na série à Ricardo Brecht, retratado por Emilio Orciollo Netto. O nome da empresa, ao invés de Odebrecht, é Miller & Brecht.
Na série, o doleiro Alberto Youssef é Roberto Ibrahim, vivido por Enrique Diaz.
A Petrobras se chama PetroBrasil e o seu ex-diretor, Paulo Roberto Costa, preso pela operação, se chama na série João Pedro Rangel, vivido por Leonardo Medeiros.
A personagem de Carol Abras, Verena Cardoni, assim como Selton Mello, é inspirada por uma delegada da Polícia Federal, Erika Mialik Marena.
O presidente Michel Temer aparece na série como Samuel Themes, vivido por Tonio Carvalho.
É claro que não demorou muito para começarem as críticas à produção. Nomes ligados à esquerda apontaram descontentamento com a série e ensaiaram um boicote à Netflix.
Pablo Villaça, frofessor, crítico de cinema e editor do site Cinema em Cena, fez severas críticas aos criadores do seriado e à Netflix.
“Quando a Netflix toma a decisão de fazer um contrato, com um cara como o José Padilha, para fazer uma série sobre a Lava-Jato, eles sabiam exatamente qual ia ser o resultado. Eles estão fazendo uma história antes de a história terminar. E eles estão fazendo isso a poucos meses de uma eleição, que está altamente polarizada, em um país em que existe uma divisão hostil. Isso mostra a irresponsabilidade da Netflix” (Villaça, em entrevista ao Correio)
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A professora Dacia Ibiapina, do Departamento de Audiovisual da Universidade de Brasília, comentou:
“Bem, eu acho que o audiovisual é político, não tem como não ser, por princípio, e eu sou a favor da liberdade de expressão, eu acho que existem diversos tipos de conteúdos, e essa diversidade é importante. Agora, eu entendo que o boicote tem o objetivo de chamar a atenção para uma questão válida. E, se tem pessoas se posicionando e chamando a atenção, é porque provavelmente há motivos”.
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Ao ser perguntado se participaria de um projeto polêmico envolvendo a política atual nacional, o cineasta Felipe Gontijo disse:
“Sim, com certeza. A gente, quando faz um produto de comunicação, está suscetível a isso (respostas por parte do público). Inclusive tem uma produtora de que eu sou parceiro que tinha um projeto que envolvia como pano de fundo toda uma coisa da política do Planalto. A gente não deve fugir de temas, se fugir, está havendo uma censura. É uma coisa difícil, porque não tem como ser isento no que a gente faz, tem de existir a produção”.
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Em entrevista ao jornal O Globo, José Padilha negou a propagação de notícias falsas.
“A série mostra como PT e PMDB montaram um enorme esquema de corrupção de lavagem de dinheiro. Um esquema que lesou os brasileiros, com a participação clara de Lula e Temer, que, durante boa parte do tempo, foram sócios da corrupção sistêmica, lógica estruturante da política no Brasil. E a esquerda quer polemizar o uso do termo ‘estancar a sangria’? Não é preciso ser nenhum Sigmund Freud para concluir o que a esquerda revelou sobre si mesma ao se ater a este ponto”.
A ex-presidente Dilma Rousseff também questionou a série por, supostamente, manipular os fatos em prol de uma ideologia política. No terceiro parágrafo do texto assinado pela equipe da ex-presidente, pode-se ler o seguinte trecho:
“A série O mecanismo, na Netflix, é mentirosa e dissimulada. O diretor inventa fatos. Não reproduz fake news. Ele próprio tornou-se um criador de notícias falsas”.
O ex-presidente Lula também falou sobre a produção.
“Nós vamos processar a Netflix, nós não temos que aceitar isso. Eu não vou aceitar (…) Eles produziram uma peça que é mais uma mentira”.
E então, qual é a sua opinião sobre essa polêmica?