O amor entre mulheres não é novidade na história da humanidade, uma vez que existe antes mesmo de Cristo.
A poeta Safo, da ilha de Lesbos, chegou a falar desse sentimento na Grécia antiga. Para ela, ”a mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é a minha bem-querida”.
Porque seus poemas foram considerados muito eróticos pela Igreja Católica, boa parte da sua obra foi perdida durante a Idade Média, mas o que sobrou pode ser encontrado no site do domínio público.
Além disso, o apagamento sofrido sobre a obra da poeta Safo não foi algo à parte.
Ao longo da história, muitas outras mulheres sofreram preconceito e foram invisibilizadas por tratarem de temas homoeróticos.
Em tempos de enfrentamento contra a homofobia, vale a pena trazer filmes, livros e escritores que tratam desses assuntos em suas obras, para aumentar a consciência das pessoas sobre o assunto e quebrar esse tabu.Afinal, todas as formas de amor devem ser bem vindas no mundo, não é verdade?
Hoje nós vamos falar de quatro mulheres que amaram outras mulheres no universo da Literatura e que quebraram o silêncio através das palavras!
#1 Elizabeth Bishop (1911-1979)
Elizabeth Bishop foi uma das mais importantes poetas do século 20 a escrever em língua inglesa. Ela desembarcou no Brasil em 1951 e se apaixonou pela arquiteta Lota de Macedo Soares, ficando no Rio de Janeiro por 15 anos.
Quando conheceu Lota, a arquiteta estava terminando de construir sua casa de Petrópolis e convidou Bishop para viver com ela, presenteando-a com um estúdio (onde Bishop pode escrever diversos livros).
Anos mais tarde, Bishop escreveu o seguinte sobre o gesto da arquiteta: “Nunca na minha vida alguém tinha feito um gesto daqueles por mim, e então aquilo simplesmente significou tudo”.
Durante o período vivido na Serra fluminense, Bishop publicou, por exemplo, o livro “Poems: North & South” (1955), que foi premiado pelo aclamado prêmio Pulitzer de poesia, em 1956.
A história de amor das duas mulheres foi transformada em filme em 2013, estrelado e produzido pela atriz Glória Pires.
#2 Alice Walker (1944)
Alice Walker é uma escritora e ativista norte-americana, mais conhecida pelo romance A Cor Púrpura, vencedor do Prêmio Pulitzer de ficção, em 1983. O livro relata a dura vida de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos da primeira metade do século XX, que estabelece uma relação baseada na amizade e no amor com a doce Shug Avery, uma cantora de blues.
“Quando eu estava pensando sobre o processo de cura de Celie, eu olhei para todos aqueles homens com quem ela podia se relacionar. Honestamente, não nenhum deles seria um relacionamento de cura pra ela, porque eles não podiam vê-la. Shug, por outro lado, podia ver e afirmar todas as qualidades dela e se importar com Celie. Então era muito natural como isso ia acontecer”, explicou Walker no documentário Alice Walker: Beauty in truth” (2013).
A autora já foi casada com o ativista Melvyn Roseman Leventhal por dez anos e, nos anos 90 ela também viveu com a cantora Tracy Chapman e se relacionou com outras mulheres.
#3 Virginia Woolf (1882-1941)
A escritora britânica é considerada um ícone feminista e uma mulher revolucionária para o seu tempo ao tratar das restrições impostas às mulheres no início do século XX, principalmente das restrições econômicas e trabalhistas.
Apesar de casada com um homem, Woolf teve um romance intenso com a poeta Vita Sackville-West, sua paixão. Vita inspirou Virginia a escrever o livro Orlando – Uma biografia (1928). As provas desse affair são documentadas no livro The 50 Greatest Love Letters of All Time (As 50 melhores cartas de amor de todos os tempos, em tradução livre – sem edição em português).
Carta de Virginia para Vita:
“Olhe aqui, Vita – largue o seu homem, e nós iremos para Hampton Court, jantaremos juntas à beira do rio, andaremos no jardim à luz da lua, voltaremos para casa tarde e abriremos uma garrafa de vinho e ficaremos embriagadas para que eu possa te dizer todas as inumeráveis coisas que tenho em minha cabeça – elas não saem durante o dia, apenas no escuro do rio. Pense nisso. Largue o seu homem, eu digo, e venha.”
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Carta de Vita para Virginia:
“Eu estou reduzida a uma ‘coisa’ que quer Virgínia.
Eu escrevi uma linda carta para você nas horas de pesadelo sem dormir à noite, mas tudo se foi: eu apenas sinto sua falta, de uma maneira humana, simples e desesperada.ADVERTISEMENT Você, com todas as suas cartas sofisticadas, nunca escreveria uma frase tão elementar quanto essa; talvez você nem sequer sinta isso.
(…) Eu sinto falta de você ainda mais do que eu poderia acreditar; e eu estava preparada para sentir sua falta como uma coisa boa.ADVERTISEMENT Então, esta carta é realmente apenas um grito de dor.
É incrível o quão essencial para mim você se tornou. Suponho que esteja acostumada com as pessoas a dizer essas coisas. Maldita seja, criatura mimada; Eu não vou fazer você me amar mais me entregando assim – mas, minha querida, eu não posso ser inteligente e espalhafatosa com você: eu amo você demais por isso.ADVERTISEMENT Muito verdadeiramente.
Você não tem ideia de quão estúpida eu posso ser com pessoas que eu não amo. Isso se transformou em uma arte. Mas você quebrou todas as minhas defesas, e eu realmente não me ressinto disso. ”
#4 Audre Lorde (1934-1992)
Lorde dedicou a sua vida contra as injustiças sociais, principalmente contra o machismo, o racismo e a lesbofobia. Por ser lésbica, o amor por mulheres sempre esteve presente na sua obra: ”para mim, não há diferença entre escrever um bom poema e me esfregar até o amanhecer no corpo da mulher que amo”, disse Lorde em texto publicado 1978 sobre erotismo, poder e mulheres.
“Ser negra, mulher, gay, assumida em um ambiente branco, mesmo nos limites da pista de dança do Bagatelle, era considerado, por muitas lésbicas negras, simplesmente suicida”, escreveu a poeta.
Fonte: Huffpostbrasil
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