Formulado em 1979, o termo serial killer (ou assassino em série) se refere a um perfil de criminoso que comete crimes consecutivos seguindo um padrão de comportamento, como se fosse um ritual.
O termo foi cunhado depois que agentes do FBI descobriram que determinados grupos de assassinos compartilhava entre si características comuns, como a violência, crueldade desmotivada, traumas de infância, sociopatia e sadismo.
“A expressão serial killer aparece para definir o criminoso que pratica, ao menos, três homicídios de modo sequenciado, os quais indicam condições assemelhadas de execução, como: excesso de brutalidade, impulsividade, frieza e sadismo”, explica o professor de Criminologia do programa de pós-graduação em Ciências Criminais da PUC do Rio Grande do Sul, Ney Fayet Jr.
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Porém, segundo Mercês Muribeca, psicanalista e coordenadora da especialização em Criminologia e Psicologia Investigativa Criminal no Centro Universitário de João Pessoa, até o final do século passado, as Ciências Criminais consideravam que somente homens podiam se enquadrar como assassinos cruéis.
O argumento utilizado era de que mulheres não teriam força física para expor suas vítimas a violência extrema, como mutilação, esquartejamento, estupro e até canibalismo, frequente em crimes serializados.
“Existe um estereótipo de que a mulher, pela própria constituição física e pelo papel que lhe é atribuído na sociedade, de filha, esposa e mãe, está ligada à função de cuidadora, a comportamentos ternos, de pessoa doce”, afirma a pesquisadora.
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Além disso, por pertencerem a um grupo social vulnerável, mulheres costumam ser as principais vítimas de serial killers.
“Torna-se fácil pensar a mulher como vítima da violência e não como agressora. Isso, porém, não significa que não existam mulheres assassinas em série. Elas existem porque é da natureza humana o sadismo, a perversão, a psicopatia, o narcisismo. Isso não é uma exclusividade anatômica ou de sexo, raça, credo ou cultura”, afirma Muribeca.
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A ideia de que mulheres não podem ser cruéis e terríveis assassinas não é corroborado pela história. Quem é que não conhece a famosa Condessa de Sangue? Elizabeth Báthory de Ecsed, nobre húngara que no século XV, matou pelo menos 60 meninas para se banhar no sangue delas. Ilse Koch, por sua vez, foi uma alemã casada com um alto membro da SS e retirava a pele dos presos tatuados durante a 2ª Guerra Mundial por puro prazer (!!!!), apenas para decorar abajures de sua casa.
Para Fayet Jr., portanto, as mulheres assassinas podem não estar sendo descobertas com a mesma frequência que os homens por causa dos padrões de gênero construídos pela sociedade.
“A criminalidade é tão antiga quanto a humanidade. Existem evidências que se trata de um fenômeno constante em todos os tempos e em todos os tipos e modelos de organizações sociais. Contudo, os registros históricos da criminologia são escassos sobre homicídios praticados por mulheres em comparação aos praticados por homens, reforçando a clara desproporção entre a criminalidade masculina e a feminina”, conta o pesquisador.
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Além disso, Muribeca explica que, ao longo da história, crimes chocantes chegaram até mesmo a serem atribuídos a criaturas não-humanas.
“Devido ao fato da cena de crime ser aterradora e suas vítimas serem expostas a um requinte de crueldade, sadismo e brutalidade, acreditavam que os assassinos eram lobisomens, vampiros, monstros, homens besta, feras, etc.”, conta a psicanalista.
Para completar a complexidade disso, recentes pesquisas sobre o perfil psicológico de assassinas em série têm mostrado que elas não compartilham de várias características apresentadas em assassinos homens, como violência e impulsividade.
Ilse Koch
Um conjunto de fatores culturais, biológicos e históricos ajuda a entender por que existe – ou parece existir – muito mais homens que mulheres assassinos em série.
“Homens são mais agressivos por apresentarem níveis maiores de testosterona, que os predispõem a maior agressividade. Além disso, meninos e homens são incentivados pela sociedade a terem comportamentos violentos como modo de afirmação da masculinidade”, explica a psicóloga Roberta Salvador-Silva, do Grupo de Pesquisa Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade da PUC-RS.
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De acordo com a literatura psiquiátrica dos anos 2000, há mais psicopatas homens que mulheres: 4% das psicopatias ocorrem em homens e 1% em mulheres. No entanto, Salvador-Silva explica que a maioria dos estudos sobre psicopatia quase não aborda mulheres como amostras, o que tornaria essa proporção pouco confiável.
“Como as amostras dos estudos quase sempre são masculinas, se reforça um estereótipo de que não existem muitas mulheres psicopatas, o que não representa a realidade. Esse conjunto de fatores pode levar autoridades a negligenciar casos de psicopatas mulheres, fazendo, consequentemente, com que seus comportamentos e crimes passem despercebidos”, conclui.
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Cema Cardona Gomes, psicóloga e autora da pesquisa de mestrado Psicopatia e Agressividade em Mulheres Apenadas, realizada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos em 2010, aponta que há semelhanças e diferenças importantes entre criminosos psicopatas homens e mulheres.
“A literatura mostra que há maior incidência do transtorno nos homens. Mas nem sempre o grau de intensidade do transtorno tem uma diferença significativa entre homens e mulheres. De modo geral, insensibilidade, emoções superficiais e ausência de culpa são características comum a ambos os sexos.”
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Um estudo da Universidade Penn State Harrisburg, na Pensilvânia, publicado em 2015, analisou 64 assassinas em série dos Estados Unidos e concluiu que há diferenças entre homens e mulheres no que se refere a motivações do crime, características das vítimas e métodos de execução.
De acordo com a pesquisa, enquanto os homens costumam matar por sexo, as mulheres costumam matar por vingança, poder ou dinheiro.
Quanto aos métodos, os homens são mais brutais e violentos com o corpo da vítima, se valendo de facadas, estrangulamento, mutilação e esquartejamento.Já as mulheres são mais sutis e se utilizam de métodos que simulem uma morte de causa natural.
No entanto, se a brutalidade é menor nos métodos de execução dessas assassinas, elas tendem a ser mais cruéis que os homens na escolha das vítimas. Normalmente são pessoas do seu círculo social, principalmente aquelas que necessitam de seus cuidados ou então podem ser os membros da própria família.
Outro fato chocante sobre a psicopatia feminina apontou que algumas profissões ligadas ao cuidado do outro, como professora, babá, cuidadora e enfermeira, podem atrair mulheres psicopatas por verem nos vulneráveis suas vítimas perfeitas.
Já uma pesquisa feita pela Universidade Penn State Harrisburg concluiu que é mais difícil descobrir crimes hediondos cometidos por mulheres do que crimes cometidos por homens: enquanto elas geralmente levam oito anos para serem descobertas, eles levam, em média, quatro.
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