O pensador francês, autor de livros como El silencio e Elogio del caminar, descreve o seu ideário nesta entrevista concedida ao Grupo Joly, antes de pronunciar uma conferência em La Térmica.
O pensador francês David Le Breton é doutor em Sociologia pela Universidade Paris VII e professor na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Ciências Humanas Marc Bloch, de Estrasburgo. Ele publicou recentemente um livro chamado El silencio, Elogio del caminar e Desaparecer de sí: una tentación contemporánea, no qual afira que, a fim de combatermos a desumanização dos dias atuais, é preciso apostar em formas concretas de resistência.
Dentre um dos tipos de resistência sugeridos, Le Breton destaca o silêncio.
Boa parte da nossa relação com o ruído procede do desenvolvimento tecnológico, especialmente em seu caráter mais portátil: sempre carregamos sobre nós dispositivos que nos recordam que estamos conectados, que nos avisam quando recebemos uma mensagem, que organizam os nossos horários com base no ruído.
ADVERTISEMENT Esta circunstância veio incorporar-se às que já haviam tomado forma no século XX como hábitos contrários ao silêncio, especialmente nas grandes cidades, governadas pelo tráfego de veículos e por numerosas variedades de contaminação acústica.
ADVERTISEMENT Neste contexto, o silêncio implica uma forma de resistência, uma maneira de manter a salvo uma dimensão interior frente às agressões externas.
O silêncio permite-nos ser conscientes da conexão que mantemos com esse espaço interior, o silêncio a visibiliza, enquanto o ruído a esconde.ADVERTISEMENT Outra maneira de nos conectarmos com o nosso interior é o caminhar, que transcorre no mesmo silêncio.
O maior problema, provavelmente, é que a comunicação eliminou os mecanismos próprios da conversação e se tornou altamente utilitarista com base nos dispositivos portáteis.ADVERTISEMENT E a pressão psicológica que suportamos para os armazenar é enorme.
O pensador destaca que diferentes culturas tendem a encarar o silêncio de maneira diferente. Por exemplo, na tradição japonesa existe uma noção muito importante de disciplina interior, cristalizada em sistemas de pensamento como a filosofia zen.
O silêncio é a expressão mais verdadeira e efetiva das coisas inomináveis.
E a tomada de consciência de que há determinadas experiências para as quais a linguagem não serve, ou que a linguagem não alcança, é um traço decisivo do conhecimento.ADVERTISEMENT Nesse sentido, tradições como a cristã, em que o silêncio é muito importante, tornam-se reveladoras: a sabedoria dirige-se a compreender o que não se pode dizer, o que transcende a linguagem.
Nessa mesma tradição, o silêncio é uma via de aproximação de Deus, o que também se pode interpretar como um conhecimento.ADVERTISEMENT Podemos utilizar o silêncio para nos conhecermos melhor, para nos distanciarmos do ruído.
E este é um valor a reivindicar no presente.
Mas como abrir espaço para o silêncio em nossas vidas? O pensador defende a meditação como uma forma de nos encontrarmos com nós mesmos, e assim criarmos um espaço de reflexão em nosso cotidiano. Para Le Breton, ter feito o caminho de Compostela foi um experiência que mudou a sua vida, nesse sentido.
A minha melhor experiência nesse sentido, a definitiva, foi no Caminho de Santiago: quando cheguei enfim a Compostela, compreendi que eu havia me transformado completamente, depois de numerosos dias em marcha e em absoluto silêncio. Foi um renascimento.
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Além do silêncio, o pensador defende a livre caminhada ou, como ele gosta de chamar, o vagar sem uma meta concreta.
Caminhar é outra forma de tomar consciência de si, de reparar no próprio corpo, na respiração, no silêncio interior. Na Idade Média havia aqueles que se dispunham intensamente a caminhar no deserto. Porém, a prática do caminhar nas cidades encerra conotações relacionadas ao prazer. Trata-se de desfrutar daquilo que você percebe, de se deleitar com os atrativos que a cidade lhe oferece pelos sentidos. É uma atividade hedonista.
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O pensador comenta que atualmente o planejamento das cidades parecem se opor cada vez maior ao ato de caminhar sem rumo, pois criam obstáculos à caminhada, sob a figura de shoppings e outros centros comerciais.
O fato de caminhar por suas ruas sem nenhum interesse em comprar ou em gastar dinheiro, somente em vagar sem rumo, daqui até ali, porque sim, também é uma forma de deixá-las mais humanas, de rebelar-se contra as ordens que convertem todas e cada uma das interações humanas num processo econômico.
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Para o pensador francês, é possível resistir à velocidade do cotidiano e retomar controle sobre a própria vida cultivando o silêncio e a caminhada. Em seus livros, ele aprofunda a sua reflexão e comenta como tem mantido esses hábitos em sua vida.
Mas nós queremos saber: como você encara isso? Você concorda com Le Breton? Pratica o silêncio e a caminhada? Acredita que essas práticas ajudariam você na sua vida?
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