O muro de Berlim não tinha nem um ano de existência e a Alemãnha er ao centro da guerra fria quando Christiane Vera Felscherinow nasceu, em 20 de maio de 1962, na cidade de Hamburgo – a cerca de 288 quilômetros da então dividida capital alemã.
Hamburgo fazia parte da Republica Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental, o lado “capitalista” do muro. Tinha o segundo maior porto da Europa e era a segunda maior cidade do país. Vivia um efervescente e complexo momento sociocultural, com muita pobreza e criminalidade. Tudo isso gerou um grande movimento musical: começou a surgir bandas de rock.
Os Beatles se apresentaram bastante vezes na cidade, por exemplo. Mais de 250 vezes entre 1960 e 1962.
Apesar de Christiane ser bastante ligada a musica, infelizmente o que mais teve influência na vida dela foi o submundo de violência, crimes e drogas da cidade. Ela teve sua vida marcada pela prostituição antes mesmo de completar 14 anos. História contada no duro livro Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída.
O livro foi lançado faz mais de 40 anos, vendeu milhões de cópias. Chocou e emocionou o mundo inteiro, não só a sociedade alemã na época. O livro conta a vida precoce da autora, dos seus doze aos quinze anos, vivendo seu vicio por heroína e sendo vitima da prostituição infantil.
Três anos após o lançamento do livro, em 1981 a história seria adaptada para a versão cinematográfica. Estrelado por David Bowie, alcançou sucesso e transformou a personagem de Christiane em uma espécie de popstar, mas também mostrando o lado sombrio de sua vida. Ela se tornou então, uma espécie de celebridade junkie ao mesmo tempo que servia como aviso de prevenção às drogas.
Por trás dessa incrível e sombria história, há uma pessoa, que passou por muitas dores e desafios e conseguiu de repente, graças a literatura, subir na vida e ter seu conforto, saúde e segurança. Quando o livro foi lançado, Christiane só tinha 16 anos! Quando saiu o filme ela tinha 19. Ninguém acreditava na época, e seguem sem creditar, que a jovem que tem sua história contada ainda esta viva!
Hoje ela completa 56 anos, 40 anos atras lançou seu livro. Ela segue viva, lutando contra o vicio e vivendo dos direitos de sua história.
“Eu sou e vou continuar sendo uma junkie star
Ela se mudou com a familia para Berlim quando ela tinha seis anos de idade. E aí tudo desmoronou, com o pai sendo abusivo e a mãe negligente! Aos 12 anos usava LSD e conheceu Detlef, um namorado que ela conhecerá na boate Sound. Aos 13 anos descobriu a heroína no show de David Bowie e aos 14 se prostituia.
Aos 15, encontrou-se com os jornalistas Kai Herrmann e Horst Rieck e contou a eles sua história. O livro seria desenvolvido em uma parceria entre os jornalistas e Christiane.
O livro reflete a geração da Alemanha durante a guerra fria. O livro é cru e direto e isso conquistou leitores e fãs no mundo inteiro. Era um livro que precisava ser escrito, uma história que precisava ser contada!
A autora admite que nunca esteve completamente longe das drogas. Ela segue bebendo e fumando maconha,mas luta fortemente contra a metadona! Ela nunca quis, de fato, desistir das drogas. Ela afirma que elas são a unica coisa que faz sentido em sua vida.
Ela também contraiu hepatite C, por conta de uma seringa compartilhada infectada, depois teve cirrose e foi presa diversas vezes. Teve um filho e perdeu, reconquistou e depois perdeu novamentea custódia da criança.
“O que mais me incomoda é essa coisa sobre Christiane F. ‘Será que ela está limpa agora, ou não?’. Como se não houvesse nada mais para ser dito sobre mim. E eu não consigo ficar limpa. É o que todos sempre esperaram de mim. Os médicos reclamam, mas eu tenho uma vida, no fim das contas”, ela desabafa.
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É a partir desse dilema que sua vida se constitui. É preciso, assim como ela, ter uma visão nao romantizadora, mas também não endemonizadora das drogas! É preciso entende-las como uma questão de saúde que deve ser avaliada de maneira clínica e séria. Tudo nessa questão deve ser resolvido de maneira pragmática.
“A heroína é parte de quem eu sou, como poderia me arrepender? Ela me fez rica, me fez famosa. Eu viajei no jatinho do David Bowie, e tudo por causa dela”. ela diz, confundindo desavisados.
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